segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ECONOMIA NA PONTA DO LÁPIS



Expectativas autorrealizáveis? A autonomia na tomada de decisões é uma conquista dos seres humanos por dotações naturais e, mais recentemente, em grande parte da humanidade, com a democracia plena. Todavia, fatores exógenos, instintivamente ou não, podem interferir em decisões em que temos plena convicção. Claramente, nas decisões do consumidor e dos demais agentes econômicos esta visão se aplica.

Desde o inicio do ano, as dificuldades da Tríade Capitalista (Europa Ocidental, EUA e Japão), sobretudo a União Europeia, têm disseminado forte pessimismo nos mercados internacionais. Se num primeiro momento os países em desenvolvimento, em especial os BRICs, estavam numa redoma à prova de crises do Primeiro Mundo, nos últimos dois meses, ficou clara a desaceleração da economia brasileira: o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou queda de 0,53% em agosto contra julho, salientando o desaquecimento da economia com o aumento de incerteza gerado pela crise internacional. No índice acumulado aponta alta de 3,43% em 2011, que, anualizado, indica crescimento de 4,07%.

Contudo, diversas variáveis importantes do consumo das famílias, que representam cerca de 60% do PIB nacional, seguem resilientes e em patamares muito seguros e satisfatórios. Nos últimos meses, mesmo com a desaceleração da atividade econômica observada nos primeiros trimestres deste ano em relação ao ano passado, o mercado de trabalho segue em excelente momento. A taxa de desemprego se manteve em 6% em agosto de 2011, mesmo patamar em relação ao mês anterior e menor patamar desde 2002 para o período. Além disso, para os próximos meses é esperada uma queda ainda mais contundente da taxa com o inicio das contratações temporárias de final de ano.

Assim como a taxa de desocupação, a massa salarial acompanhou a trajetória crescente dos últimos meses e apontou crescimento de 5,9% em agosto de 2011, taxa muito semelhante à verificada antes do inicio da depressão mundial, em setembro de 2008.

Outra variável importante, a inadimplência apresentou taxa de 6,7% em agosto de 2011, apenas 0,5 ponto percentual acima do mesmo período do ano passado. Isto é, apesar da alta, as taxas de inadimplência seguem em níveis muito longe de preocupantes. O crédito também se expande de forma consistente e deve atingir cerca de 48% do PIB nacional até o final de 2011, patamar histórico.

Por fim, e ainda mais contrastante, o Índice de Confiança do Consumidor da Fundação Getulio Vargas se contraiu nos últimos dois meses, afetado pelo pessimismo geral, após atingir seu maior patamar histórico em julho de 2011. Todavia, se observa uma desaceleração econômica mais forte do que a desejada pelo Governo Federal. Aí vem a pergunta: até que ponto as expectativas são autorrealizáveis? Fica claro que os principais vetores do consumo das famílias (alta empregabilidade, alta da massa salarial e baixa inadimplência) apontariam para boas perspectivas de evolução da economia interna, se não fossem as expectativas negativas da economia mundial. Portanto, agora se entende o surpreendente primeiro corte da Selic na penúltima reunião do colegiado da autoridade monetária.

Rodolfo Manfredini (rodolfo.manfredini@gsmd.com.br), economista-chefe da GS&MD – Gouvêa de Souza
http://www.gsmd.com.br/port/abre_artigos.aspx?id=794&__akacao=618246&__akcnt=f8c98c50&__akvkey=3581&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Mercado+%26+Consumo+20%2F10%2F2011

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